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José Sebag

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José Sebag

Detalhes do registo

Informação não tratada arquivisticamente.

Nível de descrição

Fundo   Fundo

Código de referência

PT/BPARJJG/PSS/JS

Tipo de título

Atribuído

Título

José Sebag

Datas de produção

1953  a  1989 

Dimensão e suporte

2 caixas, papel.

Entidade detentora

Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça - Horta.

Produtor

Sebag, José.

História administrativa/biográfica/familiar

José Sebag (1936-04-24 e 1989-09-02), poeta do surrealismo português, publicou durante a sua vida breve dois livros, "Planeta Precário" e "Cão até Setembro", mas deixou muitos outros "projetos de escrita" em manuscritos originais. Embora tenha nascido na ilha do Faial, José Sebag viveu grande parte da sua vida fora dos Açores. Fez o liceu em Beja, para onde o seu pai foi trabalhar, e prosseguiu os estudos universitários em Direito. Mas foi em Lisboa, integrado no chamado grupo do Café Gelo, no convívio com alguns "sobreviventes do surrealismo", que José Sebag "viveu outra vida", privando com autores como Mário Cesariny, Mário-Henrique Leiria, António José Forte, Ernesto Sampaio ou Herberto Helder. José Sebag foi comandante miliciano na Índia, em 1960, jornalista, repórter do Notícias de Luanda, entre 1970 e 1974, experiências que acabaram por marcar o seu pensamento e ter grande influência na sua escrita. Escreveu os diálogos do filme "Vidas" (1984), de António da Cunha Telles, e trabalhou na Radiodifusão Portuguesa (RDP), em Lisboa, onde foi responsável por programas como "O ovo de Colombo" (anos de 1970/80). Em 1992, a revista Atlântida, do Instituto Açoriano de Cultura, dedicou ao escritor um número especial, com artigos sobre a sua vida e obra assinados por autores e investigadores como José Carlos Gonzalez, João Rui de Sousa e Emanuel Jorge Botelho, entre outros (fonte: https://www.noticiasaominuto.com/cultura/815312/obra-pouco-ou-mal-conhecida-de-jose-sebag-sera-(...)).

Fonte imediata de aquisição ou transferência

Auto de entrega de Marc Georges Ange Graff de 2012-06-26.

Âmbito e conteúdo

O espólio literário de José Sebag. Os documentos encontram-se acondicionados em duas caixas de arquivo. Contém a primeira caixa: 1. Duas cópias da declaração pela qual Maria Antónia Sebag, viúva de José Sebag, nomeia, em 1991-08-27, o escritor José Carlos González como fiel depositário de todo o espólio literário e artístico de José Sebag.2. Uma declaração pela qual o escritor, tradutor e investigador José Carlos González entrega, em 1996-01-02, os documentos constituintes do espólio de José Sebag ao professor Marc-Ange Graff.3. Uma nota manuscrita em francês, possivelmente de Graff, referente à caraterização da produção literária de José Sebag.4. O inventário do espólio, também na língua de Voltaire.5. Uma capilha contendo o poema Acerca de outra coisa e os últimos poemas inéditos de Sebag de 1989.6. Uma capilha contendo o inédito Madrugadas de álcool puro, 1986, prosa.7. Uma capilha contendo uma narrativa, Madrugadas de álcool puro, tal como foi enviada para a revista Atlântida, em 1992-11-21, para a sua publicação.8. Uma capilha cujo conteúdo é constituído por: o suplemento de cultura do Jornal do Fundão, de 1991-05-10, que inclui a publicação de inéditos de Sebag, a sua fotografia e um artigo de José Carlos González relativo à obra Cão até setembro, ou a vitória do surreal quotidiano; dois poemas de González; um ofício do presidente da direção do Instituto Açoriano de Cultura a solicitar ao diretor da Biblioteca Nacional a dispensa do funcionário José Carlos González para que este pudesse efetuar a apresentação do livro Cão até setembro, que decorreu na cidade da Horta em 1991-11-15; uma carta de González, de 1991-05-22, a propor ao diretor do IAC a publicação de Cão até setembro; a cópia de outra carta de González, esta de 1991-03-15, enviada a João Afonso, possivelmente o secretário regional da Cultura, com idêntica sugestão; um rascunho efetuado por González da programação do colóquio destinado à Sociedade de Língua Portuguesa: José Sebag, um poeta que tentaram esquecer; o preâmbulo de caráter biográfico, da autoria de González, à palestra sobre José Sebag, ocorrida na Sociedade de Língua Portuguesa, em 1991-04-09.9. Uma capilha contendo o poema Pedra pupilar, eventualmente de 1988.10. Uma capilha contendo as várias versões do poema Lembrar setembro.11. Uma capilha contendo o poema Rio, de 1955.12. Uma capilha contendo Exercícios respiratórios, de 1984, de Salomão Küssnacht, pseudónimo ou heterónimo de José Sebag.13. Uma capilha contendo o poema Hino gasto, que foi publicado nas Folhas de poesia, de 1957-07.14. Uma capilha contendo o poema No flutuado e solto movimento.15. A capilha denominada Bloc gris-bleu que contém quatro poemas.16. A capilha designada Feuillets gris que possui poemas de 1955.17. O poema De cá, de 1955-05-29, dedicado a António Botto.18. O poema Essa que move os gestos, de 1955.19. O poema Liberdade.20. O poema Basta de crepes negros, de 1955.21. O poema Dans la sagesse lointaine des étoiles.22. O poema Aqui, de pés na planura.23. O poema Mesmo que nasça num barco.24. O poema Búzio morto.25. As duas versões do poema Saudade.26. As três versões do poema Medo.27. O poema Na tua boca, de 1955.28. O poema Mãos de ausência, de 1955, dedicado à memória de Fernando Pessoa.29. O poema Vozes por detrás do muro branco, igualmente de 1955.30. Um conjunto de poemas de 1955 onde eventualmente se nota a influência de Mário de Sá-Carneiro.31. Os poemas Ópio e Dúvida.32. As duas versões do poema Silêncio envelhecido.33. A poesia que Sebag levou ao concurso dos jogos florais de Moura por volta de 1953-07-23, incluindo o poema Terra.34. O poema Ronda triste, de 1954-04-23.35. O poema que Sebag dedicou à sua esposa em 1956.36. Uma capilha contendo originais.37. Uma capilha contendo três poemas da obra Cão até setembro.38. Uma cópia de O planeta precário, uma edição de autor de 1959 impressa nas oficinas tipográficas do jornal Diário dos Açores.39. Uma capilha contendo uma carta, de 1981-11-27, assinada por José Capaz-Sebag, e dirigida a Isabel Meireles, propondo algumas alterações nos seus poemas que deveriam ter sido publicados numa antologia em língua francesa. Nesta altura Sebag era o responsável pelo programa O ovo de Colombo, da RDP, em Lisboa.40. Um exemplar do jornal micaelense Açores, de 1971-08-19, no qual foi publicado um artigo que noticiava o início da participação de José Sebag no programa musical Paralelo 38 da estação de rádio Clube Asas do Atlântico. Este artigo inclui uma fotografia de Sebag.41. Um capilha contendo a cópia de alguma correspondência.42. A lista Livros de aconselhável aquisição.43. Uma capilha designada Vária.44. Uma cópia da publicação Folhas de Poesia, número 1, de 1957-01.45. Uma cópia da publicação Folhas de Poesia, número 2, de 1957-07, onde se encontra incluído o poema Hino gasto, de José Sebag.46. As três versões do poema Vomitório contidas numa capilha.Contém a segunda caixa: 1. A revista Aires 21: Trois poètes des Açores: José Sebag, José Martins Garcia, Emanuel Jorge Botelho, contendo textos escolhidos e traduzidos por Laura Lourenço e Marc-Ange Graff e desenhos de Sylvain Bravo, 1995.2. Um envelope contendo a obra de poesia Cão até setembro, variantes, 1989.3. Um envelope contendo novamente os poemas de Cão até setembro para os efeitos de uma revisão.4. As folhas soltas da obra Cão até setembro, co-editada pelo Instituto Açoriano de Cultura, na sua coleção Ínsula, e pela Câmara Muncipal da Horta, em 1991, com anotações de revisão de texto.5. A capa: Originais, que possui um número reduzido de documentos aparentemente num estado de desorganização e a cópia de um artigo publicado no Jornal de Queluz, de 1992-01-24, relativo a Sebag.6. Um manuscrito em prosa que se inicia assim: No mês de julho o meu pai ia a águas e deixava-nos, a minha mãe, ao meu irmão mais velho e a mim, entregues às jornadas de verão, resplandecentes e embriagadoras. Folheávamos, aturdidos pela luz, o grande livro das férias...7. Um envelope contendo as duas primeiras versões do primeiro capítulo de Azinhaga do clavicórdio, prosa, 1985.8. Uma carta de José Carlos González, de 1987-03-11, dirigida a José Sebag.9. O catálogo da exposição da pintura e gravura, Musseques, da artista Renée Gagnon com o prefácio de José Sebag, de 1982-03-10.10. Um exemplar do jornal Correio dos Açores, de 1977-12-24, no qual se destaca o conto Naftanatal, do eventual livro de contos a publicar Vai tu, de José Sebag. Começa assim o conto: Indubitavelmente, um computador.11. As páginas 11 e 12 de um exemplar do jornal Açores, de 1979-07-12, dedicadas à rubrica Triplo salto, de José Sebag, onde o poeta apresenta-nos uma entrevista feita, salvo erro, ao autor da Raiz comovida, Cristóvão de Aguiar.12. Um CD de textos de José Sebag em língua portuguesa, organizados e anotados em língua francesa, possivelmente, por Marc-Ange Graff. Possui três pastas: Poesia, Prosa e Elementos biográficos. A pasta Poesia é constituída por três subpastas, diga-se assim, a saber: Inéditos, Publicados e Solomon Küssnacht. A subpasta Poesia está, por sua vez, dividida em outras duas: Anos 50 e Anos 80, contendo a primeira cerca de 60 documentos, ou seja, cerca de 60 poemas, e a segunda apenas um documento. A subpasta Publicados possui três documentos e a subpasta Solomon Küssnacht dois documentos. Na pasta Prosa verifica-se a existência de dois documentos e finalmente na pasta Elementos biográficos encontra-se uma nota referente à participação, iniciada em 1971-08-19, de José Sebag no programa Paralelo 38, da estação de rádio Asas do Atlântico, com a rubrica Mini Magazine.Naftanatal. Indubitavelmente, um computador; quem me estava ao lado, uma rapariga que parecia transparente, de tão jovem que era, havia-o beliscado, logo depois de lhe ter piscado, catrapiscado, uma pupila incendiada de desafio, uma íris sobrevoada de relva, um cristalino vitalício. «Aquilo» não acusara a beliscadura. «Aquilo» ignorara a flecha do olhar da rapariga. «Será um computador?» - inquiriu-me o rapaz que me ficava do outro lado, levantando a miopia da superfície de um livro de reproduções de Matisse. Pensei entre parêntesis que o mais estranho de tudo era ter a tecnologia progredido tanto que já as pessoas se não encrespavam de dúvida por poder um computador tal e qual usar chapéu, uma camisa quase de sport, umas peúgas de cor leviana, um relógio de pulso de marca insofismável, um nariz aquilino, mas não ribeiro, mas não bach. Éramos um grupo. Havia a rapariga transparente e o rapaz míope, mas para os lados e para trás havia muito mais gente. Era tudo muito igual ao costume e por isso mesmo era estranho. Senti um cotovelo nas costas. Ao inclinar-me ligeiramente para a retaguarda, um hálito anónimo segredou-me: «Não receie». Senti vontade de o pontapear à meia volta. Até então eu não tinha sentido medo, mas a pergunta servia o medo porque (é O'Neill a seguir?) não há coisa que o medo mais queira que é ter a gente medo do medo. Mas não pontapeei-o do grupo atrás de mim. Como fazê-lo se, como sabem, se mal jazia numa cadeira de rodas, e os serviços competentes me haviam selecionado para os internacionais de voleibol, primeira mão (salvo seja!) segunda volta logo ali à frente? Estávamos nisto. O rapaz míope debruçava-se com grande atenção sobre uma mulher de roupão, colorida por Matisse; a rapariga, tão jovem que quase era transparente, continuava a piscar o olho «àquilo» que ficava na nossa frente (só depois me diria que um tique nervoso recebido numa infância excessivamente concentracionária) e o tipo à minha retaguarda substituíra-me por uma garrafa de qualquer coisa que tinha álcool lá dentro. O silêncio dizia que para os outros lados, e para trás, havia muita gente nas mesmas, ou idênticas, circunstâncias. Três filas atrás, mais ou menos, porque naturalmente eu não podia voltar a cabeça, um sujeito qualquer muito parecido com outro (seria o mesmo?) que eu conhecera anos atrás como vendedor de enciclopédias, agarrou o silêncio com ambas as mãos, rasgou-o sensivelmente a meio e, pela fresta entreaberta, como uma criança experimentando a voz por um funil subtraído à ocasional distração materna, berrou: «Amigos, é...» Foram as reticências próprias que se transformaram numa espécie de cachecol ou mantilha, uma asa de vento perpassou, sem barulho demasiado, e a mantilha (ou cachecol) garroteou a voz, espalmou o grito incompleto, trespassou o sujeito parecido com o outro (seria o mesmo!) que era vendedor de fezes de cabra montês e não de enciclopédias, como ainda há pouco, por lapso perdoável, se escrevia neste texto despretensioso. As palavras eram interditas no recinto, e por isso não perguntei à rapariga o que o vendedor (agora enforcado por ninguém) queria dizer na sua, nem sobre o mesmo assunto interroguei o rapaz míope de tanto se extasiar de Matisse, e muito menos o tipo atrás de mim. A garrafa que esta empunhara minutos antes tinha mesmo álcool lá dentro. Ele emborcara-a de um hausto e tinha caído em câmara lenta, sem pressa, como que apontando, sabiamente, à têmpora, à pedra que haveria mandar desta para a melhor. O livro de reproduções de Matisse já ia na página trinta e sete, a rapariga continuava a piscar estrepitantemente o olho (o tique) e o murmúrio das outras gargantas lá para trás não dava para nada. Falavam das suas vidas. Quando o homem das reticências transformadas em cachecol suicida começou a cheirar mal, o computador sentiu-se obrigado a tomar uma decisão. Era uma máquina energética, eficaz e pontual. A uma breve e seca ordem sua, reuniu os atiradores, ordenou-lhes que apontassem e deu ordem de fogo. O que me salvou foi o sujeito da garrafa; tinha álcool lá por dentro que nunca mais acabava, tremia, era o delírio ou coisa assim, estava deitado por terra e dava pontapés no que julgava serem escorpiões e centopeias gigantes. Coitado do homem. Um dos pontapés acertou em cheio na minha cadeirinha de rodas; aquilo já não era delírio era o estertor. O estertor tem muita força. A cadeirinha estava destravada, que eu não sou parvo nenhum nem estava a dormir na formatura e começou, pela força do pontapé do outro, a ziguezaguear por ali fora como uma bicha-de-rabear. Parece que até se usa este truque na tropa e, pelo menos tanto quanto sei, dá resultado. Vira para aqui e vira para acolá, como os carrinhos da feira quando os namorados vão lá dentro, ouvi as balas a passar mas nenhuma me acertou. O outro sobrevivente foi o rapaz que gostava de Matisse. Estava muito triste porque o bêbado que me salvou a vida, no estertor tinha urinado sobre o livro de reproduções, e também porque a rapariga do tique, a que era quase transparente (de tão jovem que era), e porque quem ele estava obviamente enamorado, se consumira como uma vela de estearina, na tarefa irremediavelmente sórdida de piscar o olho ao computador. Ainda por cima estava a espera de um bebé. «Do computador?» - perguntei, com o cinismo distraído dos sobreviventes recentes. «Não, do bêbado que estava atrás de si» - redarguiu, sem melindre, o rapaz míope. «É verdade» - simulei, para desviar a conversa - «não houve alguém que lá para trás ia gritar qualquer coisa que começava por oh amigos…? «É verdade, é» - recordou-se o rapaz - «e eu sei o que ele ia dizer…» «O que era?» - insisti. «Ia dizer que era noite de Natal…» «Porque não o disse, então?» «Não sabia que ele era mudo?» «Como assim mudo?... Ouviu-o dizer oh amigos, com nitidez…» «Eu também. Todos nós. Foi isso que assustou o computador.» «Era mesmo um computador?» O rapaz que gostava de Matisse encolheu os ombros, voltou-me as costas e seguiu caminho, sem me dizer mais adeus que um efémero chispar das suas lentes de míope. Lá do fundo, voltando-se antes de desaparecer, respondeu-me à pergunta com um gesto que não entendi. Nunca mais o vi.

Sistema de organização

À peça literária principalmente.

Condições de acesso

Comunicável.

Idioma e escrita

Português.

Características físicas e requisitos técnicos

Estado de conservação: regular.

Instrumentos de pesquisa

Inventário.

Unidades de descrição relacionadas

Na Biblioteca Pública e Arquivo Regional de Ponta Delgada existe uma carta de José Sebag expedida de Lisboa a Ruy Galvão de Carvalho, cujo código de referência é: PT/BPARPD/PSS/ERGC/002-002/01361.

Notas

Localização: C3.

Data de publicação

11/01/2019 16:17:56