Teatro Faialense
Informação não tratada arquivisticamente.
Nível de descrição
Fundo
Código de referência
PT/BPARJJG/EMP/TF
Tipo de título
Atribuído
Título
Teatro Faialense
Datas de produção
1878
a
1991
Dimensão e suporte
Cerca de 564 documentos; papel, metal.
Entidade detentora
Biblioteca Pública e Arquivo Regional João José da Graça - Horta.
Produtor
Teatro Faialense.
História administrativa/biográfica/familiar
Localiza-se na Alameda Barão de Roches n.º 31, freguesia da Matriz, cidade e concelho da Horta. Ao longo de sua história constituiu-se num dos equipamentos mais importantes da vida cultural da cidade, sendo considerado como uma escola de diversas gerações de artistas insulares.Os primórdiosDesde a época do povoamento existem notícias de formas de representação teatrais nas várias ilhas do arquipélago, quer por iniciativa popular (ex.: danças de Entrudo), quer pelas ordens religiosas (ex.: presépios vivos, cenas da Paixão). Contudo, a expressão laica e moderna do teatro só surgiu, nos Açores, no início do século XIX. Numa primeira fase, as representações teatrais eram apenas privilégio de uma elite urbana, realizadas em pequenas salas improvisadas. Eram representadas peças de autores portugueses, prática que se manteve até surgirem os primeiros textos de escritores locais.O primeiro teatro dos Açores, foi construído na então vila da Horta, na ilha do Faial, pelo morgado José Francisco da Terra Brum, depois 1.º barão de Alagoa, na sua residência, e inaugurado em 1814. Precedeu os congéneres de Ponta Delgada e de Angra em cerca de uma década. Denominou-se Theatro de Thalia e funcionou até 1824, uma vez que, em virtude da queda das instituições liberais em Portugal e das dissensões políticas que então agitaram a ilha, cessou funções, vindo a ser desmanchado.Pouco depois, em 1826, foi instalado na Horta um segundo teatro, denominado Theatro Constitucional Boa União, no Largo do Bispo D. Alexandre, na casa que pertenceu à Sociedade Cooperativa Artista Fayalense, o qual funcionou regularmente até 1828. Uma vez mais, o exacerbamento das tensões políticas com a eclosão da Guerra Civil Portuguesa obrigou à cessação dos espetáculos até ao ano de 1832, quando voltou a funcionar, vindo a ser transferido, mais tarde, para o primeiro andar, no lado norte, do extinto Colégio dos Jesuítas.A criação do Theatro Constitucional Boa União foi iniciativa de um militar continental, o major João Pedro Soares Luna, que, à época, exercia as funções de comandante da força de artilharia de guarnição aquartelada na Horta. Contou com a colaboração de várias pessoas e com o apoio do governador das armas, Diogo Tomás de Ruxleben, que, sendo violinista amador, muito contribuiu para a empresa. Ernesto Rebelo registou: “O teatro de Luna, como ainda hoje na Horta é designado pela gente daquele tempo, teve épocas florescentes, ainda atualmente recordadas com verdadeira saudade, tornando-se dum poderoso elemento civilizador e contribuindo, porventura, para esse decidido gosto pela arte de Talma, aqui existente.” (“Notas Açorianas”. Arquivo dos Açores, 1885, 1886, 1887)A presença das forças liberais, que permaneceram nos Açores a partir do golpe de 22 de junho de 1828 que, na Terceira, restaurou a Carta Constitucional, até à partida do Exército Libertador em 1832, foi fundamental para difundir o gosto pelo teatro, tendo a atividade ganho fulgor com a presença nas ilhas de jovens militares, muitos com passagem pela Universidade de Coimbra, ligados às forças constitucionais. Em 1845 e 1846 levantaram-se também o Theatro de Santo António, no extinto convento do mesmo nome, e o novo Theatro Thalia, numa casa pertencente ao advogado João de Bettencourt Vasconcelos Correia e Ávila (1806-1868), na Alameda do Barão de Roches, local então designado por Praça Velha. Ambos duraram alguns anos. Em 1850, uma sociedade de artistas faialenses começou a dar récitas na mesma casa onde, trinta anos antes, havia funcionado o Theatro Constitucional Boa União, passando em seguida, no ano de 1857, para a parte inferior de umas casas pertenças ao extinto Convento da Glória. A classe “artista” (designação então dada aos trabalhadores especializados) da Horta já naquele tempo era bastante instruída e empreendedora, tanto assim que, faltando-lhe música para os seus divertimentos cénicos, criou, para o efeito, a Filarmónica Artista Fayalense, que ainda existe. Esta sociedade de artistas realizou espetáculos entre 1850 e 1875.Em 1882 houve também na sala do antigo Theatro Thalia um outro, de pequenas dimensões, de que era proprietário o amador dramático Francisco Augusto de Oliveira, mas que pouca duração teve. Registe-se ainda que, em diversas épocas, na freguesia das Angústias, existiram algumas pequenas salas de espetáculos, mantidas geralmente por artistas, as quais tiveram, apesar de muitos esforços, duração efémera. Também a Sociedade Humanitária de Litteratura e Agricultura, uma associação cultural hortense, e o Grémio Litterario Fayalense, nos seus melhores tempos, mantiveram pequenos teatros nos quais se deram récitas apreciáveis.O Theatro FayalenseA primeira sala de teatro, na moderna aceção da palavra, deveu-se à iniciativa do advogado Correia e Ávila, onde, numa das suas casas, já funcionava, desde 1846, o novo Theatro Thalia, com grande sucesso de público. Aproveitou um antigo granel, cujas paredes foram demolidas, em 1854, para dar lugar a uma sala projetada de raiz para essa finalidade, com importantes melhoramentos, contando a sua configuração com 15 camarotes na 1.ª ordem, 15 na 2.ª e 12 frisas, para além de 80 lugares de superior e 104 de geral. Inaugurado a 16 de setembro de 1856, com o nome de Theatro União Faialense, constituiu o primeiro teatro regular a funcionar no arquipélago.No Verão de 1880 João Francisco de Eça Leal desembarcou na cidade da Horta, onde fez representar 17 das suas peças (de dramas a comédias) o que promoveu um aumento da dinâmica teatral na cidade. Essa influência notar-se-ia na remodelação e inovação dos cenários, maquinismos e na própria arte da representação. Neste momento, o União Faialense encontrava-se em mau estado, com grande necessidade de obras, e a sua remodelação foi empreendida por José de Bettencourt de Vasconcelos Corrêa e Ávila Júnior. Foram refeitos os camarins, o cadeirado da plateia, a pintura interna (incluindo o teto da sala) e externa, alguns cenários, e substituído o pano de boca de cena, entre outras melhorias. O início dos reparos teve lugar no final de 1883 (O Açoriano, 1883:3) e o teatro reabriu as portas ao público no ano seguinte (1884).Em 1896 Portugal assistiu à inauguração do animatógrafo. No ano seguinte (1897), João Anacleto Rodrigues realizou uma viagem pelas três capitais de distrito dos Açores para apresentar a novidade em várias sessões: no Theatro Angrense a partir de 31 de agosto, no Theatro União Fayalense a 16 de setembro e, no Theatro Micaelense, a 9 de outubro. Em 1909 aqui tiveram início sessões regulares de cinema, assim como no Salão Éden. O imóvel foi demolido na década de 1910, e, no mesmo lote urbano, foi erguido o atual edifício, por iniciativa de José de Bettencourt, neto do fundador, com projeto do engenheiro Francisco de Assis Coelho Borges, inaugurado a 6 de abril de 1916, rebatizado como Teatro Fayalense. No seu apogeu, fez parte do circuito das salas de província que recebiam companhias e artistas em digressão, sendo palco para diversos artistas de renome, entre os quais se destacam as atrizes Emília Adelaide (1836-1905) e Ângela Pinto (1869-1925), o violonista e compositor Sá Noronha (1820-1881), e a violinista Gabriella Neusser, entre tantos outros.Em 1933 foi exibido no Fayalense o primeiro filme sonoro, feitas as transformações necessárias para o efeito: João de Bettencourt de Vasconcelos Corrêa e Ávila montou uma nova aparelhagem com o auxilio do seu primo, o 1.º engenheiro técnico Max Corsepius (funcionário da Deutsch-Atlantische Telegraphengesellschaft, pai de Yolanda Corsepius). Ainda durante a gestão de João de Bettencourt foi inaugurado o CinemaScope (1959), bem como importantes melhoramentos na parte norte do teatro, nomeadamente a substituição do cadeiral da plateia em 1975. O Teatro Faialense encontra-se classificado como Imóvel de Interesse Público pela Resolução n.º 152/89, publicada no JORAA, 1.ª série, n.º 49, de 5 de dezembro, e pelo Anexo V do Decreto Legislativo Regional n.º 3/2015/A, de 4 de fevereiro. A sua traça construtiva não segue um padrão rigorosamente enquadrável na chamada “Art Déco”, mas sim influências de tendências ecléticas do começo da centúria de novecentos, com uma fachada simples, revestida de azulejos, e cobertura curva, recuada.Entre 1976 e 1988, a exploração deste espaço esteve a cargo de empresários privados, tendo, em 1991, comemorado 75 anos de existência. Após vários anos fechado, bastante degradado, em 1995, o Município da Horta adquiriu o imóvel à família Vasconcelos Corrêa e Ávila, tendo dado início a uma extensa intervenção de restauro e ampliação em 2002, dirigida pelo arquiteto José Lamas, que manteve a estrutura do primitivo edifício e da própria sala. O conjunto beneficiou de uma nova caixa de palco, um auditório e um centro de conferências, além da renovação da infraestrutura de serviços. No teto da sala de espetáculos recebeu uma nova pintura contemporânea, alusiva à música, do artista plástico mariense José Nuno Monteiro da Câmara Pereira (1937-2018). Tendo sido dotado com os mais modernos meios e equipamentos, foi reinaugurado a 6 de junho de 2003 passando a oferecer, em termos de espaços, um Cineteatro, um Auditório, uma Sala Polivalente e um Bar. Nesse ano, a Câmara Municipal concessionou a gestão deste teatro à empresa Hortaludus, que se fundiu, a partir de 2013, com a Urbhorta, atual gestora. O Cineteatro tem capacidade para 106 pessoas em teatro, mais 32 no balcão e 144 nos camarotes. O Auditório dispõe de 73 lugares. Existem equipamentos de som, iluminação e tradução simultânea. Para ler mais...“Abertura do Teatro União Faialense”. In RIBEIRO, Fernando Faria (2007). Em dias passados. Figuras, Instituições e Acontecimentos da História Faialense. Horta, Núcleo Cultural da Horta.“História do Cinema nos Açores”. In Arquivo de Imagem dos Açores. Disponível em: Arquivo de Imagem dos Açores - Direção Regional da Cultura (azores.gov.pt) “Noticiario Local”. In O Açoriano, anno 1, n.º 11, 18 nov. 1883. p. 3.“Teatro Faialense”. In Portugal Património. Círculo de Leitores, 2006. Vol. X, p. 40.“Teatro Faielense”. In SIPA - Sistema de Informação para o Património Arquitectónico“Theatro Fayalense”. In Album Açoriano, 1903.BETTENCOURT, J. (1997). “Teatro faialense”. In Correio da Horta, 27-28 jun.DORES, Victor Rui (2023). “Para uma memória do Teatro na Ilha do Faial”. In Boletim do Núcleo Cultural da Horta, n.º 32. pp. 149-156.Faial, Açores: Guia do Património Cultural. [s.l.], Atlantic View – Actividades Turísticas, Lda., 2003. p. 57.LIMA, Marcelino (1957). O Teatro na Ilha do Faial. Lisboa, Ed. do autor. LIMA, Marcelino (2005). Anais do Município da Horta: ilha do Faial (ed. fac-simil. da de 1940). Horta, Câmara Municipal da Horta. pp. 517-524.LOBÃO, Carlos Manuel Gomes (2013). Uma cidade portuária: a Horta entre 1880 e 1926. Sociedade e cultura com a política em fundo (2 vols.). Dissertação de doutoramento em História, variante de História Contemporânea, pela Universidade dos Açores, Ponta Delgada.REBELO, Ernesto (1885, 1886, 1887). “Notas Açorianas”. In Arquivo dos Açores.SILVEIRA, Carlos M. Ramos da (2007). A Horta antiga. s.l. [Horta], ed. do autor.
Localidade
Horta.
Sistema de organização
Classificação funcional.
Instrumentos de pesquisa
Inventário.
Publicador
l.sousa
Data de publicação
26/11/2021 12:21:33